terça-feira, 24 de abril de 2012

Dylan, yo quiero

Hoje estou feliz e cansada, e está tudo bem e andando, apesar de bem atrapalhada. Mas não tem como não ficar triste e decepcionada sabendo que esse cara tá ALI e tu nem foi. POOOOXA.




So now as I'm leavin' 
I'm weary as Hell  
The confusion I'm feelin' 
ain't no tongue can tell 
The words fill my head and 
fall to the floor 
If God's on our side he'll 
stop the next war
- With God on our Side 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ramatís

"O vosso sistema de nutrição é um desvio psíquico, uma perversão do gosto e do olfato; aproximai-vos consideravelmente do bruto, nessa atitude de sugar tutanos de ossos e de ingerirdes vísceras na feição de saborosas iguarias. Estamos certos de que o Comando Sideral está empregando todos os seus esforços a fim de que o terrícola se afaste, pouco a pouco, da repugnante preferência zoofágica."




"Pensamos que o senso estético da Divindade há de sempe preferir a cabana pobre, que abriga o animal amigo, ao matadouro rico que mata sob avançado cientificismo da indústria fúnebre. As regiões celestiais [...] também serão alcançadas, um dia, mesmo por aqueles que constroem os tétricos frigoríficos e os matadouros de equipo avançado, mas que não se livrarão de retornar à Terra, para cumprir em si mesmos o resgate das torpezas e das perturbações infligidas ao ciclo evolutivo dos aniimais."

terça-feira, 17 de abril de 2012

Passa Tempo

Eu pareço tão ocupada. Mas não estou.

Estou só admirando a beleza do tempo.



Vanessa dalla


FANTASPOA

De 4 a 20 de maio, acontece em Porto Alegre a oitava edição do Fantaspoa, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre. Foi o primeiro evento do tipo no Brasil, dedicado exclusivamente ao gênero fantástico (ficção científica, fantasia e horror).
A cada ano o público e a estima do Festival crescem, que conta com a participação de muitos cineastas, roteiristas e diretores reconhecidos no ramo.

Aprecie, pela bagatela de 5 pilas a seção.

Conheça tudo no site, programação, sinopses, etc:



Frases Tolkenianas

Sábios conselhos do Professor. De longe, meu preferido é o terceiro, desde a primeira vez que o li, me encantei. É profundo se tu pensar...


Não é nossa função controlar todas as marés do mundo, mas sim fazer o que pudermos para socorrer os tempos em que estamos inseridos, erradicando o mal dos campos que conhecemos, para que aqueles que viverem depois tenham terra limpa para cultivar. Que tempo encontrarão não é nossa função determinar. 

Aquele que quebra uma coisa para descobrir o que ela é deixou o caminho da sabedoria.

Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes a vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém a morte. Pois mesmo os muitos sábios não conseguem ver os dois lados.

Momento narcisista, meu próprio pequeno Tolkien.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Maravilhoso!

Não tem como não se impressionar com esse mundo e natureza! Excepcionais!
Peixe descoberto com cabeça transparente e olhos tubulares...Artigo sobre a descoberta de 2009, aqui!


domingo, 8 de abril de 2012

A Guerra dos Tronos, A resenha.

Buenas. Vai ser difícil de falar (ou escrever...) sobre este livro. Primeiro, ainda estou no segundo da série de 4 (aqui no Brasil...lá fora já são 5), e depois, por que ele é um tanto complexo, mesmo. Mas a gente tenta! Como não é do meu feitio, essa resenha não do tipo "resumo" (aliás, geralmente odeio isso). Gosto mais de falar das impressões e considerações que considero relevantes.

Só pelo Prólogo de A Guerra dos Tronos, já dá pra sentir um pouco como vamos ficar sem fôlego através do poderoso épico de George R. R. Martin. Mas o começo é meio decepcionante, parece que ele não está falando nada com nada, e a série interminável de apresentações de novos nomes, características, famílias e personalidades é cansativa. Mas se aprende a desapegar, porque depois tudo vai fazendo sentido e vamos nos acostumando. Digo isso como um incentivo, porque minha mãe parou nos primeiros capítulos e eu juro que tive essa vontade. Mas fui adiante, e foi recompensador.

O que toma parte nesse livro é a Guerra pelo Trono de Ferro, que governa os Sete Reinos de Westeros. Uma teia de intrigas e imprevistos entre famílias tradicionais é o miolo de tudo o que se passa.

Cada capítulo cria um novo enredo e um novo mistério. De fato, mistérios é o que não falta na novela épica de Martin. O fundamental do livro são as intrigas e oposições, os conflitos sobre honra e dever. A ambição também ganha um espaço considerável nas preocupações pessoais. E cada personagem vai se moldando, de forma profunda, sempre seguindo algum desses princípios morais (ou não tão cheios de moral assim). Cada pessoa na obra tem uma particularidade, e histórias profundas. Algumas vão se mostrando mais exemplares, e outras têm um caráter duvidoso, sempre escondido atrás de narcisismos notáveis. Muitas vezes, vemos a evolução da personagem, nos envolvendo e cativando. É difícil não se apegar a alguns papéis, e ficarmos emocionados com o seu desenvolvimento.
Daenarys

Martin tem o dom de fazer de que de cada diálogo sobre uma dúvida ou uma faísca que vai gerar o incêndio, e surpresas são comuns, embora os personagens mantenham-se sempre no mesmo caráter pré-moldado (até agora). É honra até a morte, e que a morte nos tire a honra. Com duas ou três exceções, personagens muito bem elaboradas e intrigantes, geralmente sabemos o que podemos esperar das outras.

Passagens assustadoras e cheias de suspense também enchem algumas páginas com um certo louvor. Mas, incomum para mim até agora, nesse tipo de literatura, eram as infinitas citações às putas e bordéis. Nada contra, um pouco de sujeira para um mundo paralelo (posso chamar assim? Afinal, não é a Terra Média...) que mais remete à Idade Média (do mundo ordinário).

Críticas também às narrações de guerra. Na verdade, elas quase nem existem. A guerra só começa, e depois termina (até agora foi assim, praticamente).

John, Bran e Robb Stark

Maaaas embora eu tenha achado alguns pontos fracos, de longe passa a ser uma obra ruim. É complexa, dentro da sua capacidade, e bem escrita, cheia de pegadinhas e humores, e recomendo a qualquer bom leitor com paciência. De fato, a literatura fantástica ficou renovadíssima e com um novo fôlego!

A HBO criou a série homônima, muito aclamada e de produção excelente, já estou viciada também. Rsrsr, mas algumas passagens deixam a desejar, e não, não é tão fiel ao livro assim. As imagens são retiradas da série.

O Princípio do Estado, pequena nota

"O Princípio do Estado e outros ensaios" é uma notável obra Anarquista, onde Bakunin defende a sociedade livre de Estado, sendo este o gerador de toda miséria e opressão sobre o povo. Ataca igualmente a Religião.  Consta de ensaio homônimo de março de 1871, mais “A Comuna de Paris e a noção de Estado”, de junho do mesmo ano, e mais três conferências feitas aos operários franceses, em maio de mil oitocentos e setenta e um, período este de “grande efervescência revolucionária”.

De inteligência sem tamanho, lendo uma vez, começa-se a entender (e pensar mais, também...).

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin é considerado o fundador do sindicalismo revolucionário e o expoente máximo do que passou a se chamar anarquismo, a partir de sua expulsão da Internacional em 1872.
 
Editora hedra, aêê!
138 páginas.














Próximo a considerar:


domingo, 1 de abril de 2012

Os Filhos de Húrin - a melhor resenha

Ia resenhar "Os Filhos de Húrin", mas não posso deixar de postar esse achado. É uma resenha completa e sentimentalista, capaz de evocar sensações provocadas pelo próprio livro. É uma resenha da imprensa internacional da época da publicação do livro, da revista eletrônica Salon.com, e eu achei na Valinor.
É bem longa, mas não é cansativa, e é perfeita e condizente, misturando fatos históricos da vida de Tolkien.



Senhor das ruínas

Christopher, filho de J.R.R. Tolkien,
passou mais de 30 anos montando fragmentos que seu pai deixou para
trás. Agora, os leitores podem descobrir o que aconteceu 6.000 anos
antes de Bilbo Bolseiro encontrar o Um Anel.

por Andrew o'Hehir



Depois de alguns capítulos da narrativa de "The Children of Húrin", o
livro mais ou menos novo mais ou menos escrito por J.R.R. Tolkien, um
carpinteiro aleijado chamado Sador contempla seu trabalho abandonado
com emoções misturadas. Sador é um servo fiel de Húrin, senhor da Casa
de Hador na terra de Dor-lómin, e estava esculpindo uma grande cadeira
para seu mestre. Mas, meses antes, Húrin cavalgou para uma batalha que
terminou em derrota terrível. Ele não retornou, e suas terras foram
conquistadas e pilhadas por forasteiros. Assim, Sador deixou de
trabalhar na cadeira, e ela "foi enfiada num canto, incompleta".

Enquanto tenta decidir se deve desmontar a cadeira e usá-la como lenha
no inverno, Sador conversa com Túrin, o filho pequeno de Húrin que logo
será mandado para o exílio e tornar-se-á o herói andante e amaldiçoado
dessa história sombria, sangrenta e apaixonante. "Perdi meu tempo", diz
Sador sobre sua longa labuta, "embora as horas parecessem agradáveis.
Mas todas as coisas desse tipo são de vida curta; e a alegria da
criação é seu único fim, imagino."

É impossível não ouvir John Ronald Reuel Tolkien repreendendo ou
consolando a si mesmo com essas palavras. Ao morrer, em 1973, Tolkien
deixou para trás as ruínas impublicáveis de um imenso conjunto de
literatura lendária, englobando uma história imaginária inteira do
mundo, da criação até épocas quase modernas. Os grandes episódios
heróicos dessa história – os elementos que ele considerava os mais
importantes – foram escritos apenas de forma sumária ou em fragmentos,
apesar de numerosas tentativas de transformá-los em prosa narrativa ou
poesia épica. Ele teve um sucesso acadêmico significativo como
lingüista e filólogo em Oxford, mas a maior parte de sua carreira
literária foi gasta desperdiçando energia em projetos que Tolkien nunca
completava. Ele era atormentado por bloqueios criativos, humores
sombrios e numerosas mudanças de rumo. Enfiou muitas cadeiras
incompletas num canto.

Tolkien ainda poderia ser recordado dessa maneira por algum grupelho
minúsculo de admiradores, se não fosse pela única parte de sua história
- na mente dele algo relativamente sem importância, tirado dos estágios
posteriores de seu "legendarium", mas que tinha um foco unicamente
íntimo e pessoal – que ele transformou numa narrativa de larga escala.
Tolkien tinha 62 anos quando publicou o primeiro volume de "O Senhor
dos Anéis", sua obra-prima de fantasia responsável por definir esse
gênero, e mais de 70 quando a popularidade explosiva do livro o tornou
rico e famoso. Não há como negar que a história do hobbit Frodo e de
seu pequeno grupo de companheiros, que encaram uma perigosa jornada com
o Um Anel de Sauron, o Senhor do Escuro, está entre os livros mais
queridos já publicados. Inevitavelmente, para a maioria de seus
leitores o enorme conjunto de tradições por trás do livro não passa de
um pano de fundo curioso, cheio de genealogias incompreensíveis,
línguas inventadas e nomes impronunciáveis.

Contudo, como bem sabe o universo de fãs viciados de Tolkien – um
universo que nem é tão pequeno, aliás – o autor tinha imaginado e
examinado cada detalhe de sua criação, de forma tão detalhada quanto
havia feito Ilúvatar, o equivalente de Javé que criou a Terra e deu
vida a Elfos e Homens. (A linguagem de Tolkien, assim como sua visão de
mundo, nunca é neutra em termos de gênero.) Nenhum autor de fantasia ou
de qualquer outro gênero jamais construiu um mundo com tanta densidade
histórica e lingüística; chega a parecer que esse imenso trabalho de
arquiteto exauriu Tolkien e, com exceção da narrativa de "O Senhor dos
Anéis", não lhe tenha sobrado energia para contar suas histórias.


Por mais de 30 anos, Christopher Tolkien, que trabalha como
testamenteiro literário de seu pai, tem revelado fragmentos e pedaços
do baú tolkieniano, quase como um ferreiro anão tentando reforjar uma
grande espada élfica a partir de agulhas e lascas espalhadas. Embora "O
Silmarillion" tenha sido um best-seller quando foi publicado em 1977,
por exemplo, só os fãs mais durões de Tolkien atravessaram seus
sumários secos e empolados de grandes feitos do passado distante. O
próprio Christopher Tolkien escreveu, com seu circunlóquio
característico, que "o estilo e forma de compêndio ou epítome de 'O
Silmarillion', com sua sugestão de eras de poesia e 'tradição' por trás
deles, evoca fortemente um senso de 'histórias não-contadas', mesmo
quando elas são contadas. A 'distância' nunca se perde. Não há urgência
narrativa, a pressão e o medo do evento imediato e desconhecido. Não
vemos as Silmarils do mesmo jeito que vemos o Anel."


Christopher Tolkien tem hoje 81 anos, a mesma idade que o pai dele
quando morreu, e pode-se imaginar que "The Children of Húrin" é sua
última e melhor tentativa de contar uma das grandes "histórias
não-contadas" de Tolkien em algo próximo a uma forma completa. Ele
trabalhou de forma contínua e árdua para reunir pedaços de manuscritos
que aparentemente recuam até 1918, quando Tolkien concebeu
originalmente a história, e que continuam quase até o fim da vida dele.
A história de Húrin de Dor-lómin, de seu filho Túrin e da luta fadada
ao fracasso dos dois contra Morgoth (o "Grande Inimigo" de Elfos e
Homens, senhor e mestre de Sauron) foi contada duas vezes antes,
primeiro em "O Silmarillion" e novamente no volume "Contos Inacabados"
(1980), editado por Christopher. Ela emerge aqui pela primeira vez como
um relato de aventura, com toda a sua urgência narrativa, medo do
desconhecido e personagens reconhecivelmente humanos.


"The Children of Húrin" vai empolgar alguns leitores e deixar outros
desanimados, mas vai surpreender quase todo mundo. Se você está
procurando a acessibilidade, o lado lírico e acima de tudo o otimismo
de "O Senhor dos Anéis", bom, é melhor ir lê-lo de novo. Não há hobbits
nem Tom Bombadil, nada de estalagens aconchegantes na beira da estrada
e muito pouca alegria à beira do fogo de qualquer tipo. Esta é uma
história cujo herói é culpado de traição e assassinato múltiplo, uma
história de estupro e pilhagem e incesto e ganância e gloriosas
batalhas que nunca deveriam ter sido travadas.


Se "O Senhor dos Anéis"
é uma história na qual o bem vence o mal, esta aqui caminha
inexoravelmente para o outro lado.
Embora os leitores casuais de "O Senhor dos Anéis" possam se assustar,
"The Children of Húrin" não exige nerdice nível Silmarillion. Qualquer
fã médio de Tolkien com apetite pelos cantos mais escuros e estranhos
de seu reino vai se deixar prender rapidamente pela saga sangrenta de
Húrin, que desafia o temido Morgoth e é torturado sem piedade, e Túrin,
o guerreiro lendário cujos grandes feitos arrastam tudo e todos que ele
ama para o desastre completo. Ou, pelo menos, vai se deixar prender se
conseguir atravessar as primeiras páginas.


Inicialmente, "The Children of Húrin" tem aquele estilo empolado de
Tolkien em seus momentos mais emperrados. Esta é a terceira sentença do
capítulo 1: "Sua filha Glóredhel desposou Haldir, filho de Halmir,
senhor dos homens de Brethil; e na mesma festa seu filho Galdor, o Alto
desposou Hareth, a filha de Halmir". (Aliás, nenhuma das pessoas nessa
sentença aparece de novo.) Eu ainda precisei consultar os mapas,
índices e apêndices completos e muito úteis de Christopher Tolkien de
vez em quando para recordar a nomenclatura geográfica e genealógica – e
voltei a "O Silmarillion" algumas vezes para entender o contexto
histórico – mas me incomodei cada vez menos com isso conforme as horas
passavam e a luta terrível de Túrin contra o mal interno e externo
ficava cada vez mais horrenda.


As aventuras de Túrin se passam na "Primeira Era" da Terra-média de
Tolkien, uns 6.000 anos antes de Bilbo Bolseiro achar o Um Anel, de
forma que, fora algumas referências a Sauron, o lugar-tenente de
Morgoth, quase não há intersecção entre essa história e "O Senhor dos
Anéis". (Eu disse quase; preste atenção!) Túrin nasce num mundo em
guerra, onde a antiga aliança de Elfos e Homens está perdendo terreno
gradualmente numa longa luta com Morgoth, o qual lançou de sua
fortaleza em Angband o equivalente do mundo antigo das armas de
destruição em massa.


Ele conjurou ou criou ou perverteu uma raça de
demônios letais chamados Balrogs (um dos quais aparece em "A Sociedade
do Anel") e revelou um grande dragão chamado Glaurung, cujas armas
incluem tanto o fogo quanto o diálogo sarcástico. (Ele é provavelmente
o pai ou o avô de Smaug, que Bilbo encontra em "O Hobbit".) Logo depois
que as forças de Húrin e os outros grandes exércitos de Elfos e Homens
são estraçalhadas por Morgoth na Nirnaeth Arnoediad ("a Batalha das
Lágrimas Incontáveis"), o mundo ocidental é engolfado pelo caos. (Ainda
estamos muito no começo do livro, e eu não citei nenhum grande spoiler.


Mas saia agora se não quiser mais detalhes da trama.) Uns poucos reinos
élficos ocultos continuam protegidos, incluindo a fortaleza de
Nargothrond, a cidade secreta de Gondolin e a floresta de Doriath – uma
espécie de precursora de Lothlórien em "O Senhor dos Anéis" -, mas os
reinos dos Homens são tomados pelas forças de Morgoth.
Mandado para longe de sua mãe e de sua irmã ainda não-nascida quando
garoto, Túrin se torna o filho adotivo de Thingol, o rei élfico de
Doriath, e torna-se um guerreiro feroz quando adulto.


Mas elfos
imortais e homens mortais não se misturam com facilidade, e nem
Thingol sabe que Morgoth, que está mantendo aprisionado o desafiador
Húrin, colocou a família inteira do herói sob uma maldição horrenda.
Morgoth, aliás, não é só aquele típico demônio de romance de fantasia -
na origem, ele era o maior dos Ainur, os espíritos divinos que cantaram
com Ilúvatar e criaram o mundo. "A sombra do meu propósito jaz sobre
Arda [a Terra]", diz Morgoth, "e tudo o que está nela se inclina lenta
e certamente à minha vontade."


Ao contrário de Sauron em "O Senhor dos Anéis", o Morgoth de "The
Children of Húrin" aparece como um ser físico malévolo mas sofisticado,
tal como os deuses da mitologia grega e nórdica aparecem para os seres
humanos. De fato, toda essa história apresenta uma visão sombria e
visceral da vida, muito mais próxima do fatalismo dos antigos mitos
europeus do que do bom-senso rural e inglês dos hobbits, que funciona
como base moral de "O Senhor dos Anéis".


Parte disso vem do fato de que "The Children of Húrin" é principalmente
uma história sobre seres humanos, sempre as figuras moralmente mais
ambíguas do universo de Tolkien. Embora seja claramente o herói da
história e um grande guerreiro de sua época, Túrin não pode ser
descrito adequadamente como bom ou mal. Como Édipo ou Siegfried ou o
herói do épico finlandês "Kalevala" (um dos modelos de Tolkien), ele é
definido pela nuvem escura do destino que jaz sobre ele. É amaldiçoado
por um poder grande demais para ser derrotado ou eludido, mas seu
próprio temperamento só torna as coisas piores, como uma mosca que se
sacode numa teia de aranha.


Ele é arrogante, cabeça-dura, de
temperamento explosivo e inclinado à violência, e os que o amam e se
tornam seus amigos são sugados por seu vórtex sombrio.
Túrin torna-se um famoso amigo-dos-elfos e matador dos Orcs de Morgoth;
no fim do livro, realiza um ato de heroísmo lendário, o tipo de coisa
sobre a qual as pessoas ainda estavam cantando baladas na época de
Frodo. Mas, ao longo do caminho, ele também se torna um fora-da-lei que
tolera banditismo e brutalidade entre seus homens, um conselheiro
prestigioso cujas palavras só levam à perdição, um homem que mata um de
seus melhores amigos e depois rouba o amor de seu outro amigo. (É claro
que ela acaba se revelando exatamente a mulher errada para ele,
responsável por selar seu destino.) Não fica muito claro se Morgoth
realmente precisa amaldiçoar esse sujeito; ele faz um serviço muito bom
ao amaldiçoar a si mesmo a cada passo.


Terminei "The Children of Húrin" com um apreço renovado pelo fato de
que a narrativa de Tolkien é muito mais ambígua em tom do que
normalmente se nota. Como já se disse várias vezes, ele era um católico
devoto que tentou, com sucesso imperfeito, harmonizar a violenta
cosmologia pagã por trás de seu universo imaginativo com a crença numa
salvação cristã. A salvação parece muito distante em "The Children of
Húrin". O que fica em primeiro plano é aquela sensação tolkieniana
persistente de que o bem e o mal estão travando uma luta maniqueísta
não-resolvida com fronteiras amorfas, e que o mundo é um lugar de
tristeza e perda, cujos habitantes humanos freqüentemente são os
agentes de sua própria destruição.
A liberdade do outro estende a minha ao infinito.

Mikhail Bakunin


Gostei tanto dessa frase que botei ela aqui...bem diferente daquela ultrapassada "a minha liberdade termina onde começa a do próximo"...ou algo assim, tanto faz.

Porcos x...porcos?

Trecho de A Vez do Bola-de-Neve:


Os porcos informaram com muito gosto que os cofres da Granja dos Bichos estavam sustentando-se muito bom, e que não havia sido necessário tomar um empréstimo bancário (o que quer que isso significasse) para concluir as obras. No momento apropriado, contrataram-se especialistas, e muitos dentre os bichos ficaram inquietos com a presença de eletricistas, soldadores e inspetores humanos. Mas Bola-de-Neve estava certo. O caminhar bípede e o uso de roupas ajudavam a evitar problemas, tanto da parte dos humanos quanto da parte dos bichos. Depois de tanto tempo lidando com os humanos, muitos porcos estavam tão aclimatados a eles que os bichos da granja tinham alguma dificuldade em perceber a diferença entre homens e porcos (no fim das contas, tudo virou uma questão de nariz versus focinho, sapatos versus patas). 

Com o passar dos dias, quase todos concordavam que a melhor maneira de lidar com um humano era tratá-lo como um porco. Ambos gostavam de um pouco de bajulação.






Leia a RESENHA DO LIVRO

A Vez do Bola-de-Neve, depois da Revolução dos Bichos.


A Vez do Bola-de-Neve é uma paródia demolidora que traz para o mundo globalizado A Revolução dos Bichos, de George Orwell sobre o stalinismo. [...] Nessa história de John Reed,, Bola-de-Neve, o porco trotskista expulso na ficção de Orwell, volta à Granja em decadência para instaurar nela o capitalismo avançado, fundado em luxo, individualismo e competitividade. Na floresta vizinha, castores massacrados no vale tudo do mercado resolvem se vingar realizando um sangrento ataque aos Moinhos Gêmeos [...].”

Não há muito a acrescentar ao texto da contracapa do livro, já que o enredo e a história são meio enfadonhos. Não há clímax ou emoção, apenas a rotina fatigante e cada vez mais capitalista dos porcos, cavalos, burros, patos e toda sorte de animais que vão viver na Granja, encantados com o sonho colorido de conforto e riqueza que a ascensão capitalista da Granja instaura em todos. Mas não deixa de ser interessante ao analisá-la, fazendo uma comparação com a nossa própria forma de sociedade atual, bruta e insensível, da mesma forma que os porcos tratam os outros animais, considerando-se superiores. E ao ler, mesmo A Revolução dos Bichos, ou A Vez do Bola-de-Neve, não deixo de ficar triste pensando na exploração animal, ou ainda, como queremos que nossos conceitos e modos humanos sejam aplicados e instaurados na vida de espécies alheias. Isso é ir além, e deixa pra depois, como quase tudo que requer muito esforço da mente...

TRECHO DO LIVRO

Obs: Não é o mesmo John Reed de México Rebelde. Isso causou grande confusão na minha cabeça, e decepção também :(
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