quinta-feira, 21 de julho de 2011

A Bruxa e a arte do Sonhar

Florinda, que vive no mundo de dom Juan Matus (o mesmo mestre de Carlos Castaneda), é enviada para a Venezuela, local de sua origem, numa missão de buscas por respostas e perguntas. Lá chegando, em eventos do acaso, Florinda acaba por encontrar dona Mercedes Peralta, conhecida curandeira e feiticeira de uma remota região do país. Mas não é por acado que Florinda torna-se sua aprendiz, impressionado-se ao perceber o despertar de seu caminho como espiritualista e médium, através do contato com os pacientes da curandeira, que lhe contam suas histórias fantásticas, fontes de mistérios, e do grande conhecimento do mundo espiritual que Mercedes possui. Através dos dias e meses, as histórias vão se entrelaçando e criando uma teia, e Mercedes percebe que não é ela quem vai fazer um ato por Florinda, mas sim a própria Florinda foi enviada até ela para lançar sua “sombra de feiticeira” sobre Mercedes e fazer sua “roda da oportunidade” mover-se.
Em “A Bruxa e a Arte do Sonhar”, somos levados para o íntimo das histórias dessas feiticeiras, admirando-nos com a beleza da cura espiritual e do poder, e de uma história de autodescoberta fascinante e inspiradora para qualquer pessoa com sensibilidade para acercar-se dos profundos conhecimentos proporcionados por essa agradável leitura.



Trechinho:

“ - Algumas crianças têm a força para desejar alguma coisa com muita paixão por um longo período de tempo. Candelária era uma criança assim. Ela nasceu desse jeito. Ela desejou que seu pai ficasse e desejou isto sem um pingo de dúvida. Dedicação, determinação, é isto que uma feiticeira chama de sombra.”


Autora: Florinda Donner-Grau
Editora: Nova Era
Páginas: 288

El viaje definitivo

“...e eu partirei. Mas os pássaros ficarão, cantando:
e meu jardim ficará, com sua árvore verdejante,
com seu poço d'água.
Em muitas tardes os céus serão azuis e plácidos,
e os sinos das torres repicarão,
como repicam esta tarde.
Aqueles que me amaram passarão,
e a cidade explodirá de novo cada ano.
Mas meu espírito sempre vagará nostálgico
no mesmo recanto escondido de meu jardim florido.”

Juan Ramón Jimenez
“El viaje definitivo” (“A viagem definitiva”)
retirado de Viagem à Ixtlán, de Carlos Castañeda

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Sombra de Innsmouth

A Sombra de Innsmouth apresenta ao leitor os horrores de um universo onde aberrações monstruosas abalam as fundações da sanidade e ameaçam o futuro da espécie humana.


Terrivelmente instigante e fascinante. A Sombra de Innsmouth, com sua notória narrativa sufocante,  leva o leitor às sombras de submundos. Robert Olmstead, o narrador desta perfeita mistura de terror e fantasia, é o sujeito curioso que resolve investigar um assunto proibido, falado aos sussurros pelas pessoas: o estranho vilarejo de Insmouth. Sobre ele surgem os mais variados boatos, aterrorizantes e  mirabolantes, sobre as almas moribundas que por lá vivem, como eles tratam os estrangeiros com arrogância e o estado decrépito da cidadezinha portuária. O mais curioso que se falava era a aparência das pessoas de lá, que pareciam sapos sobre duas pernas. Mas tudo isso não passava de boatos, até Robert lá chegar e perceber o estado de desolação do malcheiroso lugar. Não via pessoas, apenas sombras que se esgueiravam entre os muros na presença de um estranho. Olhos brilhantes e ruídos esquisitos se escondiam no escuro. Mas ao cruzar o caminho de Zaddok Allen, velho bêbado e meio alucinado, Robert desencava e desenreda informações de uma história centenária que mais parece saída de algum conto sobrenatural. Mas teriam elas fundamento, ou eram invenção da mente alucinada do velho? Ao ser perseguido pela misteriosa população, Robert presencia cenas de puro horror, e a história do pacto de ganância com demônios marinhos e da lenta transformação daquelas pessoas em peixes abomináveis finalmente aparece aos seus olhos incrédulos. Mas no que ele mesmo se transformaria, isso ele jamais poderia ter previsto.

E é assim, neste livro curto e intenso de 119 páginas, que presenciamos mais uma obra do século XX da pura literatura do horror clássico que apenas uma mente é capaz: Howard Phillips Lovecraft.
Outro aspecto de relevância é a qualidade da tradução e impressão. A tradução ficou por conta de Guilherme da Silva Braga, que dou destaque pois é excelente, além da qualidade de impressão e gráfica da Editora Hedra, que muito recomendo!



Trecho:
Será possível que nosso planeta tenha de fato engredado tais criaturas? Que olhos humanos possam mesmo ter visto, na substância da carne, o que até então o homem só havia conhecido em devaneios febris e lendas fantasiosas? E no entanto eu os vi em fileiras intermináveis – debatendo-se, saltando, coaxando, balindo – uma bestilialidade crescente sob o brilho espectral do luar, na sarabanda grotesca emaligna de um pesadelo aterrador.
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