O cenário é o gelado Continente
Antártico, fascinante e indescritível, que dominava muitos dos anseios de Lovecraft.
Foi na desolação branca que o autor incorporou muitas de suas criaturas
bizarras, dando origem à uma história completa, surpreendente e desesperadora.
Criaturas Ancestrais |
As coisas ancestrais, os medonhos
shoggoths, galerias subterrâneas de terror de éons passados, e abismos e platôs
infernais dão corpo a primeira e única novela com mais de 100 páginas de H. P. Lovecraft, Nas Montanhas da Loucura.
Por ser mais extensa, Lovecraft
abusa do seu metódico estilo de escrita, com incontáveis descrições e detalhes
de todo o ambiente. É a obra de maior aproximação do gênero de ficção
científica, mas sem deixar de lado o sobrenatural e as invocações
extraordinárias.
A história é narrada em primeira
pessoa, pelo ensandecido geólogo William Dyer, que descobre que uma nova
expedição está se preparando para ir à Antártica; mediante o fato, resolve
expor todos os terrores que lá passou, a fim de impedir essa nova busca, e
manter a paz no mundo.
O ambiente é a Antártica, e Dyer
relata os acontecimentos de sua expedição científica ao continente. Logo são
feitas descobertas intrigantes e novas buscas revelam a possível existência de
coisas alienígenas.
Em busca de respostas ao achado e a um
massacre ocorrido no acampamento, Dyer e seu colega Danforth exploram a área de
avião – e decidem por fazer uma busca do outro lado das montanhas abissais, que
forneciam a base para o acampamento. E é nessa exploração que as maiores
descobertas são feitas.
Com muitos detalhes, acompanhamos
a descoberta de uma cidade ancestral, de proporções magníficas, construções
geométricas e incontáveis túneis e galerias subterrâneas. Por um bom tempo,
Lovecraft se detém na descrição da horrenda cidade e as deduções dos
exploradores – sobre os antigos moradores do local – que datavam de 500 mil
anos atrás, no mínimo. São feitas algumas citações das ilustrações de Nikolai
Rerikh e também sobre Poe. Por um certo período, a narrativa fica maçante, e com
amplo uso de termos técnicos.
Pintura de Nikolai Rerikh |
É depois da página 100 que a
história toma um novo fôlego e se torna realmente curiosa e quase agonizante. O
narrador e Danforth entram em confins da cidade, e encontram rastros de vida. De
fato, encontram colônias de seres jamais vistos antes, porém, inofensivos. Mas
encontram outras coisas mais indescritíveis e ameaçadoras também. Descobrem
outras formas de vida – certamente, alguma Criatura Ancestral – na beira do
Abismo do mundo e mais, se deparam com terrores vindos das profundezas dos
cosmos, criações imundas que apenas uma mente doentia é capaz de lembrar ou
imaginar. E no final, o horrendo grito inumano fica ecoando na nossa cabeça: “Tekeli-li! Tekeli-li!”.
É uma história fundamental que
apresenta seus laços com as outras obras de Lovecraft, elucidando maiores
detalhes sobre os Antigos e a criação dos Shoggoths, bem como uma teoria sobre
a criação na vida da Terra, e em certo momento, questionamentos
existencialistas.
E como toda boa obra da Editora Hedra, o livro ainda consta
com um Apêndice, que apresenta uma carta do autor e a tradução de um soneto de Fungos de Yoggoth.
Nas Montanhas da Loucura
H. P. Lovecraft
Ed. hedra
130 páginas
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