Quando, numa manhã de domingo, ouvimos tocar os velhos sinos, nos perguntamos: como é possível? Isso diz respeito a um judeu, crucificado há dois mil anos, que se dizia filho de Deus! Falta a prova para semelhante afirmação. Certamente a religião cristã é, em nossa época, uma antiguidade, um vestígio de um distante passado, e o fato de que se possa acreditar nessa afirmação - enquanto, de outro modo, nos tornamos tão rigorosos na averiguação das afirmações - talvez seja a peça mais antiga dessa herança. Um Deus que gera filhos com uma mulher mortal; um sábio que recomenda não trabalhar mais, não julgar mais, mas estar atento aos sinais do iminente fim do mundo; uma justiça que aceita o inocente como vítima substituta; alguém que ordena a seus discípulos beber seu sangue; orações para pedir milagres; pecados praticados contra um Deus e expiados por um Deus; medo de um além, do qual a morte é a porta; a figura da cruz como símbolo, numa época em que já não se conhece o destino nem a ignomínia da cruz - que vento horripilante nos vem de tudo isso, como que saído do túmulo de um passado antiquíssimo!
Quem haveria de crer que ainda se acredita em semelhante coisa?
Capítulo 113.
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Obra de Caravaggio |
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