segunda-feira, 11 de junho de 2012

Resenha "comparativa": Senhor dos Anéis x Guerra dos Tronos


Bem, não é difícil de achar por aí, textos que tentam comparar, pôr em pé de igualdade ou menosprezar um a favor do outro, Senhor dos Anéis (SdA) e Guerra dos Tronos (GoT)1. Sou fã adicta de Tolkien, e leitora costumaz de fantasia, então também me encantei por GoT. Mas vou tentar não ser tendenciosa ao SdA e ser justa – ok, justiça pode ser um conceito individual, mas tentarei fazer nos meus termos.


- A se começar pelo uso da fantasia em si. Fantasia é aquela obra que faz uso de personagens ou seres de caráter mitológico, nascidos da imaginação do próprio autor ou tirados de lendas antigas. Pode ter importância secundária, ou tomar dimensões inconcebíveis. Basicamente, é isto que difere as duas obras.Tolkien usa a fantasia dentro da própria narrativa, o ambiente é totalmente fantástico e a sua presença é constante e imprescindível. Sem tal ambientação quase sem limites, muita coisa perderia o sentido e o contexto.  Já Martin, ao meu parecer, faz dela uso secundário. Os seres fantásticos e mitológicos estão ali, para dar o toque mágico, escuro ou tenebroso necessário para a impressão do leitor. Mas de modo algum eles são o motivo da obra – ou pense bem, os gramequins não fariam falta, e os Outros só servem, até agora, para dar medo e fazer parte de um desenrolar de trama.

- Outra característica importante é a avaliação das personagens, e vou me estender. Um livro só existe pq têm personagens, e personagens só existem porque têm um fim e um começo – e nesse meio tempo, uma evolução. E é a evolução que dá sentido pra tudo, não seria justo o Aragorn ser Rei sem ter lutado, ou a Daenarys ter os dragões sem ter sofrido. O final pode ser então a conquista do objetivo, ou obra da “justiça divina”, a redenção dos pecados ou a punição, a morte, enfim. E cada personagem tem seu meio de chegar até lá. Ambas estórias têm heróis e vilões. Mas Tolkien manipula (ou dá vida) as personagens de forma mais pueril e suave. Elas sofrem, e têm sentimentos humanos, mas geralmente é algo profundo, que faz tal pessoa se questionar, põe em dúvida a missão. Digamos que Tolkien dá mais heroísmo clássico (?) nos infortúnios dos coitados, bem como a recompensa é bela e grandiosa. Então, ao meu ver, as personagens se Tolkien se aproximam um pouco mais do sagrado e não são atormentadas por questões tão mundanas, são seres exemplares e geralmente honrosos, um pouco mais de beleza e suavidade. Já as personagens de Martin, elas me parecem arranhar, dão um sentimento mais forte de raiva, indignação, ou um carisma maior – mas isso quer dizer que elas são mais humanas, portanto, são mais sujas, apresentam mais conflitos éticos e essas coisas comuns, bem como a presença comum de bordéis, sexo, homoafetividade, e sentimentos mais feios são constantes, como a vingança , e o desejo de cabeças rolando por puro prazer – aliás, o prazer move muitas coisas ali, esse desejinho incoerente, rsrs. Até mesmo as personagens más do Tolkien são mais grandiosas e espertas – desde Morgoth que f**eu com tudo, até Saruman (seu faxineiro, rsrs), que em humilde simplicidade constrói aberrações inumanas mortais. Porém, parece-me que Martin trabalha um pouco mais toda essa inconstância humana e espírito de almas.
Série de livros de G. Martin (Fonte: Amazon)
                    Série de livros de G. Marin (Foto: Amazon)


- complexidade e coerência da obra. Bem, até que não dá pra falar muito em coerência quando o assunto é Tolkien. Mas complexidade dá. Os terrenos de ambientação são inigualáveis. Tolkien moldou três eras longas e recheadas de mitos, lendas, heróis e anti-heróis, bem como explicou em epopeia o nascimento do mundo e de cada ser habitante da “atual” Terra Média. Confesso não ser perita em Martin. Mas até hoje nunca ouvi falar sobre como Westeros surgiu, ou da onde vieram os Outros. Existem passagens que tentam explicar e dão sugestões sobre o passado remoto de seu mundo, dando a ilusão de que um dia tudo vai se encaixar. Mas não. São passagens vagas e tu fica: “tá, e daí, o que veio depois?”, contrastando com toda a riqueza de detalhes e sofisticações tolkenianas. Além das línguas de Westeros, que sabemos que existem, mas até agora, nada mais2. Mas sobre Sindarin e Quenya existem quase dicionários deixados por Tolkien. Na realidade, não creio existir obra tão complexa quanto a história de Arda/Terra Média e seus povos.
Confesso que tentei ser imparcial, mas talvez não tenha dado. Minha predileção por tolkenidades é visível e tá explodindo do texto. Mas nem de longe eu quis falar mal ou depreciar GoT. Estou adorando a série, é envolvente e tudo o mais. Podem ler as resenhas abaixo ;)

E no fim, para não ficar no vácuo, a maior constatação de todas: não dá para comparar o incomparável – sem querer dizer que uma é melhor que a outra, porque elas são DIFERENTES, cada qual tem qualidades únicas e memoráveis. Acho que isso põe um ponto final, não é?


Quem tiver objeções, manifeste-se.


Notas:
1. Por SdA identifico toda a obra tolkeniana, Silmarillion e etc. Li apenas até o segundo livro da série As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, da qual o primeiro livro é o Guerra dos Tronos - mas vou continuar - são 5.
2. Justamente por não ter terminado a série d'As Crônicas não posso afirmar que não existam explicações maiores e adendos. Mas até agora, não li a respeito - o que pode ser um engano confesso.

5 comentários:

  1. Agora que você falou, fica claro que Tolkien utiliza a fantasia como parte da história, os personagens e a fantasia são interligados, já com Martin a fantasia é apenas um complemento, o maior destaque fica a encargo dos personagens
    E eu sinceramente acho os personagens de SdA mais honrosos, leais e fictícios, já em Got eles são mais propícios aos erros, egoísta e mais humanos.
    O bom de SdA é que foi uma saga com começo, meio e fim em apenas 3 livros e tudo muito bem explicado, já GoT está em seu 5º livro e ainda há muitos fios soltos...
    Adorei a resenha
    Beijos, Tata ;)

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  2. Isso, exatamente! Foi o que eu tentei expor mesmo, pq essa ladainha de "um é tão melhor que outro",não tá com nada.. :P

    Hhaha, o blogspot aé, e aqui é meu cachorro com as patas no teclado, dez séculos pra acertar uma palavra, ahbdaad.

    Brigada, Tata!!

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  3. Na minha humilde opinião, creio que não dê pra comparar Tolkien com ninguém. Tolkien é o Pai da Fantasia (em termos), e a maior parte daquilo que você falou aí, para os dois lados, é verdade. Porém, muito embora a obra de Martin (e não só a dele) possa agradar mais em termos de realismo, principalmente no tocante a personagens, em termos gerais, comparar qualquer livro de fantasia com a Obra de Tolkien é querer esculachar.

    Apesar disso, concordo com a maioria do que foi posto, à estrita exceção do mencionado fato de que não temos muitas informações sobre a origem de Westeros e tal. Ora, que não temos informações, isso é verdade... mas o que eu discordo é que isso seja um ponto negativo. Na verdade, Tolkien criou um mundo para mostrá-lo para exibi-lo, criou do início ao fim, em todos os detalhes, línguas, geografia e cultura... e por melhor que Martin (ou qualquer um) tenha feito, não se aproxima nem um pouco dele. Porém, isso não é muito importante para a história de Martin. Não agora. Na verdade, As Crônicas se baseiam muito no suspense que causam ao leitor, no desenrolar das coisas, e não faria muito sentido ele querer esclarecer um mistério como a origem dos Outros, por exemplo, quando isso é CLARAMENTE um elemento-chave no desenrolar da história. Acredito que a esses detalhes maiores em relação ao mundo, nós teremos acesso no futuro, após o fim da obra... não acho que ele tenha ignorado essa parte, e talvez esteja criando até hoje, quem sabe? Vale lembrar que O Silmarillion (que explica a maior parte da mitologia de Arda) não foi publicado até depois da morte de Tolkien, portante, mesmo que ele já tivesse criado tudo aquilo, aos leitores ainda não era dado a conhecer.

    Enfim, na minha opinião, George Martin é um grande autor, e é a contra-gosto que comparo ele com Tolkien, mas Tolkien é incomparável, e por mais batida e antiga que sua história possa parecer, ela é, em todos os termos, superior a qualquer outro livro de fantasia. E quem quiser, pode chamar de fanboy, não passa de uma pura verdade literária. A grandeza de Tolkien não diminui a de Martin mais do que a de Lewis ou qualquer outro autor de Fantasia... e Martin é, simplesmente, a excelência no assunto desde a morte do Professor.

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  4. LOTR supera GOT na fantasia, nao tem como negar, ate porque a magia nao faz muita diferença em GOT

    Dizer que o mundo de LOTR é mais bem construido que o de GOT é verdade tbm, mas olha o tempo que o Tolkien escreveu sobre Valinor, e olha o tempo que o Martin escreve sobre Westeros, mas que seja, méritos do Tolkien

    Mas no principal, que é a historia e seus personagens, GOT esmaga qualquer coisa, começando por LOTR, quando que haveria mortes de personagens preciosos em LOTR como a que existem em GOT? E os personagens de LOTR sao divididos entre herois perfeitos e viloes irrecuperaveis, em GOT os personagens sao humanos, erram feio e acertam, vc encontra motivaçoes sublimes em quem despreza, e ve mesquinharia em quem parecia perfeito

    E por mais que eu adore descriçoes de paisagens e magia, a historia é muito mais importante, mil vezes o suspense numa historia em que todos sao sujeitos a encontrar gloria ou desgraça, do que uma historia dualista que fica muito claro nas primeiras leituras que o bem vai esmagar o mal, com no maximo uma ou duas baixas de personagens nem tao importantes do lado bonzinho

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