Um jovem escritor resolveu correr o mundo para encontrar um homem muito sábio de idade avançada que lhe explicasse algumas coisas da vida que ainda se tornavam enigmas no seu dia a dia. O rapaz se despediu de seus pais e parentes para uma longa viagem. Dizem as boas falas que só o nosso coração é capaz de nos levar ao encontro desse ancião de fala macia e calma.
-Maurício, você é louco de procurar um homem que não sabe quem é! – dizia seu melhor amigo Augusto.
-Preciso ir, tenho que descobrir a verdade e relatarei a todos, pois escreverei tudo que ele me contar.
-Tem certas horas que eu realmente não o conheço, apesar de termos crescidos juntos.
-Não se preocupe... Eu só estou tentando buscar as minhas verdades e desvendar as minhas dúvidas. Deseje-me sorte.
-Vai com Deus, meu amigo!
Maurício colocou a sacola nas costas, a coragem na cabeça e seguiu o seu caminho em direção a lugar algum. Se com destino certo é difícil de se chegar, imagine sem tê-lo. O jovem rapaz seguiu caminho sem rumo. Andou milhas e milhas, carona em carona até chegar em um lugar pacato onde as pessoas são tão lentas até para falar.Maurício para num pequeno bazar onde um homem fumando um charuto fedorento o olha com desdém.
-Por favor, senhor, eu estou à procura do ancião.
O homem o olha de cima abaixo, dá três baforadas no charuto e responde:
-Tu tá falando daquele velho louco que fala uma porção de besteira sem sentido?
-Esse mesmo!
-Tu segue essa estrada de terra batida inté o final, lá tu vai vê uma casa de sapê com paia encima, é lá que ele vive.
-Muito obrigado! – disse Maurício, virando-se e partindo.
-Mais um louco sem juízo! – falou cuspindo no chão o homem.
Maurício caminhou, caminhou, caminhou... O sol já estava dando o lugar para a lua brilhosa de verão e o rapaz não parava de andar, só que o cansaço não perdoa, Maurício teve que parar e dormir um pouco. Perto de uma árvore velha o rapaz se encostou e dormiu um sono reparador, como nunca tinha dormido antes.
Os primeiros raios solares bateram em seu rosto. Maurício despertou e viu a tal casa de sapê que o homem do charuto fedido falou. Só uma coisa Maurício não entendeu, como de noite ele não conseguiu ver aquela casa ali tão próxima dele? Levantando e sacudindo a poeira acumulada, o rapaz foi até a casa e bateu na porta... Nenhuma resposta... Outra vez... Nada! Então ele resolveu entrar e lá encontrou um homem aparentando a idade de cem anos, que com a cabeça baixa como que concentrado.
Maurício colocou a sacola num canto e em frente do velho se sentou. Nada existia na casa. Não havia cadeira, mesa, fogão, água, comida, para dizer a verdade, só o velho estava lá, vestido com as roupas mais simples já vistas.
-Ancião? – chamou Maurício, tentando olhar o rosto do velho que permanecia com a cabeça baixa.
O velho nem se movia... Maurício levantou-se decepcionado, pegou a sacola, abriu a porta...
-Aonde pensas que vás?
Desististes de procurar a verdade
que tanto almejas?
Maurício retornou assustado, colocou a sacola no mesmo local de quando entrou e voltou a sentar diante do velho que falava por versos.
-Como poderei ser um grande homem ancião?
-É aquele que estende a mão ao próximo,
que ama a Deus acima de tudo,
que jamais abandona os amigos,
que tem conhecimento sem humilhar o humilde,
que é rico de compaixão,
não julga sem que seja julgado,
comanda sem explorar,
constrói sem destruir,
vive sem matar,
luta e ama,
pensa antes de fazer,
faz sem se arrepender,
impõe a justiça,
divulga o amor,
constrói uma família,
confessa que erra,
conserta o erro,
perdoa todos pelos os seus pecados.
O velho voltou a abaixar a cabeça. Maurício ficou sentado pensando nas palavras daquele homem que disse tudo o que queria saber em poucas palavras.
O rapaz se levantou, pegou a sacola, saiu da casa, andou alguns passos e virou-se para perguntar o nome do velho. A casa havia sumido. Maurício percebeu que não precisava ir tão longe para buscar uma resposta que vive dentro do coração de cada um de nós. Ela está lá, é só fazer uma viagem para dentro de si e encontrar aquele ancião que carregamos todos os dias de nossas vidas.
Conto de: Edson Gomes, do Blog O Último Lampejo do Crepúsculo.
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