sábado, 18 de setembro de 2010

O conto: O Ancião

Um jovem escritor resolveu correr o mundo para encontrar um homem muito sábio de idade avançada que lhe explicasse algumas coisas da vida que ainda se tornavam enigmas no seu dia a dia. O rapaz se despediu de seus pais e parentes para uma longa viagem. Dizem as boas falas que só o nosso coração é capaz de nos levar ao encontro desse ancião de fala macia e calma.


-Maurício, você é louco de procurar um homem que não sabe quem é! – dizia seu melhor amigo Augusto.

-Preciso ir, tenho que descobrir a verdade e relatarei a todos, pois escreverei tudo que ele me contar.

-Tem certas horas que eu realmente não o conheço, apesar de termos crescidos juntos.

-Não se preocupe... Eu só estou tentando buscar as minhas verdades e desvendar as minhas dúvidas. Deseje-me sorte.

-Vai com Deus, meu amigo!


Maurício colocou a sacola nas costas, a coragem na cabeça e seguiu o seu caminho em direção a lugar algum. Se com destino certo é difícil de se chegar, imagine sem tê-lo. O jovem rapaz seguiu caminho sem rumo. Andou milhas e milhas, carona em carona até chegar em um lugar pacato onde as pessoas são tão lentas até para falar.Maurício para num pequeno bazar onde um homem fumando um charuto fedorento o olha com desdém.


-Por favor, senhor, eu estou à procura do ancião.


O homem o olha de cima abaixo, dá três baforadas no charuto e responde:


-Tu tá falando daquele velho louco que fala uma porção de besteira sem sentido?

-Esse mesmo!

-Tu segue essa estrada de terra batida inté o final, lá tu vai vê uma casa de sapê com paia encima, é lá que ele vive.

-Muito obrigado! – disse Maurício, virando-se e partindo.

-Mais um louco sem juízo! – falou cuspindo no chão o homem.


Maurício caminhou, caminhou, caminhou... O sol já estava dando o lugar para a lua brilhosa de verão e o rapaz não parava de andar, só que o cansaço não perdoa, Maurício teve que parar e dormir um pouco. Perto de uma árvore velha o rapaz se encostou e dormiu um sono reparador, como nunca tinha dormido antes.


Os primeiros raios solares bateram em seu rosto. Maurício despertou e viu a tal casa de sapê que o homem do charuto fedido falou. Só uma coisa Maurício não entendeu, como de noite ele não conseguiu ver aquela casa ali tão próxima dele? Levantando e sacudindo a poeira acumulada, o rapaz foi até a casa e bateu na porta... Nenhuma resposta... Outra vez... Nada! Então ele resolveu entrar e lá encontrou um homem aparentando a idade de cem anos, que com a cabeça baixa como que concentrado.


Maurício colocou a sacola num canto e em frente do velho se sentou. Nada existia na casa. Não havia cadeira, mesa, fogão, água, comida, para dizer a verdade, só o velho estava lá, vestido com as roupas mais simples já vistas.


-Ancião? – chamou Maurício, tentando olhar o rosto do velho que permanecia com a cabeça baixa.


O velho nem se movia... Maurício levantou-se decepcionado, pegou a sacola, abriu a porta...


-Aonde pensas que vás?

Desististes de procurar a verdade

que tanto almejas?


Maurício retornou assustado, colocou a sacola no mesmo local de quando entrou e voltou a sentar diante do velho que falava por versos.


-Como poderei ser um grande homem ancião?

-É aquele que estende a mão ao próximo,

que ama a Deus acima de tudo,

que jamais abandona os amigos,

que tem conhecimento sem humilhar o humilde,

que é rico de compaixão,

não julga sem que seja julgado,

comanda sem explorar,

constrói sem destruir,

vive sem matar,

luta e ama,

pensa antes de fazer,

faz sem se arrepender,

impõe a justiça,

divulga o amor,

constrói uma família,

confessa que erra,

conserta o erro,

perdoa todos pelos os seus pecados.


O velho voltou a abaixar a cabeça. Maurício ficou sentado pensando nas palavras daquele homem que disse tudo o que queria saber em poucas palavras.

O rapaz se levantou, pegou a sacola, saiu da casa, andou alguns passos e virou-se para perguntar o nome do velho. A casa havia sumido. Maurício percebeu que não precisava ir tão longe para buscar uma resposta que vive dentro do coração de cada um de nós. Ela está lá, é só fazer uma viagem para dentro de si e encontrar aquele ancião que carregamos todos os dias de nossas vidas.


Conto de: Edson Gomes, do Blog O Último Lampejo do Crepúsculo.
Protegido por direitos autorais.

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