O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer com que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade — e assim o faria.
O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado: "Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso mentir, será enforcado."
Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.
— Onde o senhor pensa que vai? — perguntou o Chefe da Guarda.
— Estou a caminho da forca — respondeu Nasradin, calmamente.
— Não acredito no que está dizendo!
— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.
— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!
— Isso mesmo - respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. — Agora vocês já sabem o que é a verdade: é apenas a sua verdade.
O Mullá Nasrudin (Khawajah Nasr Al-Din) escreveu, no século XIV em que viveu, histórias onde ele mesmo era personagem. São histórias que atravessaram fronteiras desde sua época, enraizando-se em várias culturas. Elas compõem um imenso conjunto que integra a chamada Tradição Sufi, ou o Sufismo, seita religiosa ou de sabedoria de vida, de antiga tradição persa e que se espalha pelo mundo até hoje. Como o budismo e o zen-budismo, o sufismo sempre aliou o (bom) humor com sabedoria.
O texto acima foi publicado no livro “Histoires de Nasroudin”, Éditions Dervish, s.d., e extraído do livro “Os 100 melhores contos de humor da literatura universal”, Ediouro – Rio de Janeiro, 2001, pág. 50. Organização de Flávio Moreira da Costa.
Extraído de: Releituras.
Pra mim, tem contexto político.
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